quarta-feira, 10 de outubro de 2012

título da postagem?

Fechei a porta, negando a mim mesma do lado de fora...
É sempre ela (eufórica!) que não me deixa simplesmente existir...

Pois eu tenho que estremecer os caminhos que meus pés escolhem!
Pois eu tenho que chacoalhar o horizonte onde se deita o sol poente!
Pois eu tenho que causar estragos...

Porque eu não posso ser só mais uma...
tenho que ser "aquela"!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Uma merda!

Não posso te dizer "exatamente" bem...
Porque no script não há um "felizes para sempre".

Talvez as emoções não façam sentido.
Porque talvez quem não faça sentido sou eu...

Talvez o erro esteja então aqui. Comigo. Em mim. Eu.

Pois por mais intensas que foram minhas peregrinações,
o EU, não conquistou NADA que seja mais do que um






HOJE.













Quer saber?

GRANDE MERDA!!!!!!







PS: EU ODEIO SUFLAIR DARK.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Terça-feira

Estatisticamente, o índice de suicídios aumenta aos domingos.

Se viesse a cometê-lo, com toda a certeza, seria numa terça.
Hoje é quarta.

Obrigada.

sábado, 9 de junho de 2012

Uma dor.

Pelos comprimidos que me engoliam no banheiro da escola anos atrás...
Pelas lâminas que retalharam meus pulsos e coxas...
Eu sei,
que construí meu moralismo na sombra de quem nunca fui.
E que nunca pude me vestir de luz.

Eu sei,
que a amizade é muito mais que uma relação interpessoal de prazer, troca ou segurança social;
Ela não segue um roteiro e não há um manual dos "comos"e "porquês" agir.
Na amizade é o silêncio que que estabelece as regras, descartando quaisquer explicações.

Não me peça (não!), não me peça pra te dizer porque teu desejo me fere.
Não há razão na minha dor, apenas o aperto de ver que você se esqueceu de me colocar na balança das suas vontades.
Você é impulso e sempre foi,
e foi sedenta que descobriu todas as cores que há no mundo.
Bebeu-as, inalou-as... e se fez mulher.
Admiro a luz das tuas asas,
e a escuridão dos labirintos da sua mente.
Admiro a força motriz dos seus saltos,
mesmo quando eles te levam a estatelar a cabeça no teto.
Admiro a ânsia da tua alma de querer mais e mais,
mesmo que me sufoque com seu pedido simples.

Pelos comprimidos que me engoliram no banheiro da escola anos atrás...
Pelas lâminas que retalharam meus pulsos e coxas...
Eu sei,
que você sempre abriu a porta e trocou a companhia do vazo sanitário pela sua.
sempre me trouxe adrenalina que eu procurava mergulhando no meu próprio sangue.
Eu sei,
que você sempre esteve lá.

Mas não me peça pra ter olhos secos ao ver você sorrindo na casa que um dia eu te recebi.



quinta-feira, 15 de março de 2012

Nada mais é por amor

"As pessoas que amei, amo até hoje"

Pois um dia, numa das nossas passadas filosofias sobre os lençóis, os óculos de grandes lentes me perguntaram se eu já havia amado. Não soube lhe responder, mas soube compreender sua relação com todas as pessoas que passaram por sua vida, e ficaram...
Realmente deve ser assim. O que torna o amor indiferente.
Eu provavelmente devo ter amado. O que torna desimportante o ato do amor.

Atos importantes?
Minha ausência no trabalho devido a uma intoxicação por tinta esmalte, depois de uma tarde voluntária repintando o parquinho de uma OSCIP de azul... 
Os minutos que eu "roubo" da instituição de manhã quando atraso, ou as horas enferma que me tornei inútil na cama e impossibilitada de picar o cartão, se multiplicam descomunalmente quando a responsável financeiro dedica seus sermões a mim, quando não desconta no pagamento ou banco de horas. Em contrapartida as horas que eu doo pra mesma instituição ou as funções extras executadas, que não conferem ao meu cargo, mas faço porque gosto ou porque meus camaradas precisaram de mim, passam despercebidas. Oh!
E o ócio casual que me obriga a inventar serviço pelo medo da iminente ameaça de demissão por ônus, mas não me concede a honra de gastar esse tempo duplamente inútil no cuidado com minha vida particular, que é jogada pra segundo ou terceiro plano junto com a roupa suja, a casa bagunçada, as pilhas de material pra estudar, a saúde meio esquecida, o lazer substituído por consumo, os entes da família que a gente ama... Mas nos dias de maior agitação, quando o que multiplica-se são as tarefas, ficamos em nossas respectivas instituições, em horário extra-contratual, executando sem questionar o que nos é pedido (e, apesar de ser um acordo legislativo, muitas dessas horas extras não são remuneradas financeiramente...).

O equilíbrio dar-se-ia por uma suposta flexibilidade no tal Contrato Trabalhista? Na abolição dos contratos?? tsc...
"Hoje terminei mais cedo, vou pra casa. Amanhã apareceu mais afazeres, trabalho mais..." 
Uau! Isso soa... normal?? 
Já imaginaram quer bonitinho seria um mundo onde as relações interpessoais se estabelecem pelos ideais, pelos valores intrínsecos, condizentes entres as partes? Onde a fidelidade edifica-se na esperança de um real cooperativismo, uma transformação, ascensão social? No coletivo? Na evolução? Um mundo onde as pessoas não traem, não mentem, pois não há uma assinatura arquivada no fundo da gaveta à espera do "desvio de caráter".
!?!
Mas que caráter é esse que varia de acordo com os interesses do sistema político-econômico?
O caráter nada mais é que um chocolate derretido dentro da caixa de bombons da nossa moral. A caixa varia suas cores, tamanhos e formatos conforme localização geográfica (sim, é cultural!) e os bombons são moldados para caberem na caixa. Nada mais.
É como qualquer doutrina invisível, como a fé... Nada mais é por amor, e sim por temor.
Te pergunto, o amor existe? Explica ele pra mim...?

Não vejo Deus,
vejo o poder econômico.
Não tenho fé,
tenho uma porção de vínculos sociais.
Não observo afinidade,
É massificação.
Grandes opiniões?
Apenas papagaios vendados, conformismo... 

"Se não lhes permite ter padrões de comparação nem ao mesmo se dão conta que são oprimidos (...)"

"O problema é educacional. É um problema moldar continuamente a consciência tanto do grupo dirigente como do grupo executivo, mais amplo, que fica logo abaixo dele. A consciência das massas precisa ser influenciada apenas de modo negativo. (...)"


Pra minha amiguinha de filosofias sociais, Veri!
E pro Rica, com quem adoro dividir minha tortura mental!rs 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Razão irracional.

Sentei aqui para confessar
que as vozes das pessoas entopem meus canais auriculares, como zumbidos de vespas, antes de se tornarem água, iminente ameaça de me afogar (...)

Sentei aqui para confessar
que ontem a noite ensurdeci e submergi, debaixo dum toldo,
e que meu medo ocupa o lugar de um Deus (...)




Sim...
Ela tem razão em tudo o que disse.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Excêntrica

No café da manhã ela comeu dominação ideológica disfarçada na inocência de um cereal matinal infantil, como bolinhas de futebol sabor chocolate, acompanhado por uma Heineken geladinha que suavizava a excentricidade da absorção de sua própria inconsciência.
(...)
Pára. Era só o desjejum do domingo...



.
Escrevi um post gigante, postei e depois desisti, revertendo-o para rascunho.
.



Reflexão do dia (dispensada a mim mesma): sua imbecilidade desperdiça tempo e espaço. 

Reflexão do dia (dispensada a mim mesma e a você também): o mundo está cada vez mais recheado de crentes fanáticos. Não, não é a epidemia da fé, tomada de consciência ou prenuncia de qualquer intervenção espiritual para um mundo melhor. É só desespero coletivo.

À Li.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Pseudo consciente.
PSEUDO, pref. Elemento que entra na composição de várias palavras com a significação de falso.

Com a lata de ponta-cabeça tudo fica contraditório... Aff! Esse texto não vai ter pé, nem corpo, nem cabeça! Coerência, consciência... Estou a ponto de sucumbir, fazer besteira!!!
(...)

O dicionário me pede reforma, toda vez que é aberto e suas folhas soltas fogem, libertas pelo descuidado da cola e da linha; descuidado meu, onde o cúmplice é o vento que as hélices do ventilador promove...
Linha de pensamento, de roupa, linha que prende, me prende, prende a roupa a mim e a mim aos pensamentos. Linha que eu estouro pelo prazer da desconexão, por não suportar estar conectada...
É! Moedor de amarguras... Ok.

PS: Que fiquei claro que amo meu trabalho, mas nessa sexta-feira preciso (necessito) mandar um FODA-SE!!!!!!!!! às horas extras e filantropia em finais de semana!
Aiiii, desculpa, amo muito o que eu faço, mas há dias em que não queria ser eu, nem fazer metade do que faço! E ao mesmo tempo tem horas que queria ser um robô e fazer exatamente tudo o que faço, abstraindo sentimentos e necessidades fisiológicas...
Sim... amanhã às nove horas a gente se encontra, Sra. Filantropia... (ou terei coragem de negá-la, cumprir a promessa que sempre adio ao menino de quatro anos e simplesmente andar de skate na praça sete, tomando sorvete?????????)


Já que a probabilidade de ninguém ler esse post é grande, vou aproveita a sensibilidade que a cerveja me emprestou e escrever tudo (A Heineken estava muuuuito barata no mercado 24h!) !

Poxa, acho que estressei! E nesses casos sempre acabo recorrendo ao "metamorprosenado", meu lado acinzentado, onde posso esquecer da minha verdadeira identidade e mandar alguém se foder!
É... hoje eu QUERO muito mandar alguém se foder... Quem???
Há! Meu melhor amigo (quantos anos, Bill???, FDP que nunca leu meu blog e eu posso te xingar à minha vontade, por ser um N. FDP! Por estar pouco se fodendo -e se fodendo!!!!!!- com sua vida e com as pessoas que fazem parte dela...)
Foda-se, foda-se, foda-se, você não vai ler, Bill, você vai esticar uma carreirinha e cheirar, e vai mentir pra mim amanhã! FDP, como eu queria falar isso pra você! Que eu odeio a forma como te amo! Como odeio lembrar dos primeiros dias em que eu era a menina de sítio sem contatos urbanos, quem nem falava, apaixonada pela dança que me foi oferecida aos sábados onde você era o tal do professor, que me estendia arte e abrigo, que me oferecia um prato de comida simples na casa da sua avó, guerreira daquele bando suburbano (era carne, feijão, arroz. Era café doce, cigarro Eight, rima no seu quarto, confissões dos seus primeiros amores... Era o rei das cantadas inteligentes! Lembra, N.?? Tens memória aí?)
FDP!! Queria conseguir falar um grande palavrão pra você!!
Só pra você me odiar!! Me odeie, me odeie!!!!!!
Quero que me odeie, pois eu te odeio agora, quando não consigo ter as rédeas da tua vida!
Quando nem você consegue tê-las...
Está entregue, FDP! Você caminhou pelas passarelas contornadas pelo pó branco, brilhante, lindo...
FDP, será que sabe que eu cheiraria uma com você hoje????
Mente pra mim porque acha que eu sou careta???
Vai pro inferno... sabendo que SIM, eu cheiraria contigo hoje!
Vai pro inferno e lá lembra das notas de cinquenta do pagamento do Dri, que a gente tirava uma onda e cheirava, cheirava, cheirava, cheirava... na Igreja, na casa dos trafi.... no seu quarto, no meu quarto, no quarto da Nãna, esquinas e praças... tanto faz... acha que sou uma idiota????? O que acha que eu sou???
Porque mente pra mim?!?!?!?!?!
Acha que eu não gosto?? Que virei uma beata??? Careta??????
Vai se foder, F. L. da Silva!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Eu te odeio hoje!!!!!!!! Porque te amo!... FDP!

Há! Será que sabe que você é o humano com o qual me relaciono a mais tempo -salvo meus entes que compartilham ligações sanguíneas- nessa minha vida medíocre????
Minha vida é medíocre, Bill!!! Acha que você é o único caipira fodido do mundo????
É porque eu sorrio?? Sabia que meus sorrisos são irônicos? Que eu odeio a vida?
Sabia sim... você sabe tudo de mim quando lembra de não se esquecer....
Esqueceu de se lembrar de mim... Ahhh! Vai pro inferno!
(...)

Voltando ao meu dicionário...
Talvez não o restaure pela própria liberdade de incongruência... pela simbiose, por nos identificarmos assim (deformados, livres). Por não me sentir sozinha ao olhá-lo em cima da estante e só conseguir folheá-lo, folheá-lo, folheá-lo e folheá-lo! Faminta, fome das regras aprovadas unânimemente na sessão de 12 de agôsto de 1943 pela Academia Brasileira de Letras (...) !



(Ok... Bad day... Se ocê ler, Rica, pensei em você enquanto me sentia morta...)

http://letras.terra.com.br/nana-caymmi/797672/


(Obs.: preciso pedir desculpas à Dona Toninha, xinguei-a demais...)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"existência"

Estou achando um saco ficar aqui esperando o sono.
Ficar aqui convivendo com o sono.
Ficar aqui.

Ficar aqui, pois eu preciso estar aqui quando o despertador tocar amanhã.
Ficar aqui simplesmente pra sair daqui e encarar toda a vida projetada que exige meus sorrisos.
Que exige, exige, independentemente de eu ter pra dar.
Mas eu sempre acabo tendo, né? Sobrevivi até então...

Eu fico aqui, plenamente consciente de que poderia ser bem pior.
Eu fico porque já foi, e ao meu redor ainda é.
Eu fico, pois pra onde iria??

Acho que estou cansada, do tal do "script" que tenho que seguir.
Estou cansada de conviver com minha sobriedade, com minha solidão, cansada do mesmo itinerário, dos seis ônibus t-o-d-o-d-i-a, do barulhinho da máquina de picar cartão... Cansada de calar quando devo falar, de vomitar quando deveria conter... Cansada da oscilação de humor, das fantasias sobre o sofrimento da princesa liberta pelo príncipe encantado... Eca!! Cansada das mandíbulas da filantropia, da "devoção, devoção, devoção!"... Cansada de esperarem ainda mais de mim, mais do que estou a fim de dar! Cansada de sempre fazer com perfeição t-u-d-o-o-q-u-e-e-u-t-e-n-h-o-q-u-e-f-a-z-e-r! Cansada do cansaço, do ócio, até dos meus próprios prazeres... Cansada dos papos das meninas da faculdade, do silêncio dos meus passos quando eu fujo de todo mundo... Cansada de negar convites, de dobrar esquinas pra não cumprimentar conhecidos... Cansada das espinhas na minha cara, da dor que eu tenho no pé... Cansada de ser a estranha, a deslocada, ou exemplo, o xodó... Cansada de não gostar de ninguém só pra reclamar que fiquei sozinha no final... Cansada da cobiça, sempre seguida pela rejeição... Cansada do tempero de encanto e complexidade... Cansada dos elogios, das críticas, dos livros, dos muros, menos do meu violão... Cansada de estar cansada e não saber como descansar...
Minha mãe diz que eu não sei relaxar, só esqueceu de me mostrar onde está o botão para o "off".

(...)
O sol vai sorrir assim que eu conseguir costurar minhas pálpebras e, na boa, eu sei que minha primeira vontade do dia será a de jogar um lençol pra cobri-lo (desculpa amigão de ouro, não é nada pessoal, você sabe que eu te adoooro). Porque quando o sistema ver a luz já estarão esperando por mim, indiferentes ao meu estado de humor, espírito, afetividade ou disposição.

Querem saber o que torna suportável essa vida onde o vazio transborda??
Depois que sorrio, pico cartão, belisco umas retóricas, visto o jaleco, formo a fila com as crianças, entro na sala, abro a janela, eu fecho a porta...


E então é possível "existir".

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Bora pra um bar?

As quintas precedem as sextas... As sextas são exatamente iguais as quintas, mas gostamos mais delas porque podemos nos vestir com a lembrança de dias liberados pelo calendário onde as bundas beijavam sofás, ou sair pra degustar o que a indústria cultural (o que era cultura mesmo?) nos oferece mascarando a alienação na nossa forma de nos divertirmos... A gente trabalha interruptamente e depois das feiras o esperado "final de semana" é um convite na caixa de correio endereçado à nós e ao descanso, encontro romântico no boteco mais simpático (ou menos simpático, daí entram as preferências pessoais, tsc). E boteco é o que sobrou como entretenimento na Era onde a cultura é comércio.
"Não tenho patrão por algumas horas!! Hurra!!!!"
"Ninguém me impede de encher a cara!! Hurra!!!!"
Então a gente senta pra escutar falar e fazer-se ouvir no auto-engano de achar que a mesa do bar, a discoteca e até aquela praça atulhada não faz parte do sistema.
Tsc duplo...


Pendurei a fantasia ao lado da cama, pra vestir minha humanidade amanhã e cumprir um dos meus papéis sociais que veio sem roteiro...
Ao ator que anda tropeçando em meus enredos eu improviso a fala final, sobre os versos dedicados a mim e a Li: 

Você olha no espelho e vê a sombra de um homem que está em algum canto do quarto.
Um covarde não admite sua covardia.
Um relógio não tem importância alguma quando sabemos que o tempo é subjetivo e, sendo assim, a felicidade é atemporal! :)
A gente só se lembra do que faz parte ainda do presente, menino, e ser arremedo de si mesmo é melhor que não ter nada pra imitar...
Sim!! Você toca numa banda de rock!!!!!!!
rs

Planto aqui um beijo pra você, Will.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Reclames de sábado a noite

Neguei a surpresa que alguém planejou pra mim e me enrolei com uns livros, uns blogs e fotologs.
Na falta de um amigo pra conversar ou um namorado pra trepar, eu leio. 
Outro sábado a noite e, antes de eu me desconectar das redes virtuais, minha lista offline estava completa. Não que eu me importe, pois foi por uma crítica feita pelo meu irmão acusando minha vida a-social e defendendo a parcela de futilidade necessária a sanidade mental que eu não agregava à rotina, que nasceu meu personagem virtual, com apelido e foto. 
Eis-me aqui, interagindo com a duplicidade solitária de estar em mim e a minha frente, dividida entre duas e eu mesma, somando todas e não restando nenhuma.
Eis-me acomodando meu egoísmo entre os travesseiros pra admirar sozinho o espetáculo que a lua crescente traz à janela. Sua luz escancara o espaço que esvaziei do meu lado, preenchido pela culpa de não me importar em deixá-lo esperando...
Estranho ele ser um cara bacana, que customizou algumas horas de seu precioso relógio para me entregar, assim, sem maiores intenções, só porque gostava de mim... Estranho eu ser uma menina sozinha, saudável e desimpedida e descartar uma boa oportunidade de trocar minhas reclamações por um sorriso no rosto.
...e agora estamos aqui, cobertos de silêncio, cada um em sua casa, sozinhos, comendo por esporte e distraindo a melancolia com combinações léxicas dispensadas a nós mesmos.

A verdade é que já me acostumei em ter o espaço vazio, em administrar o silêncio inodoro, fiel, previsível e cômodo. A verdade é minha dependência emocional da auto-privação, meu vício na dor que já nem sinto. A verdade é que depois de tanto tempo, me tornei egoísta e incapaz de compartilhar.


E então me lembrei do dia em que ele me perguntou se eu já havia amado alguém.
A resposta é "não sei", pois quando lembro da intensidade dos sentimentos que envolveram relações passadas, posso até dizer que sim, mas ao calcular a rapidez com que me esqueci desses caras, duvido das minhas próprias afirmações.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Blá, blá.

Olhei minha própria imagem refletida no espelho do banheiro, por alguma tecnologia ocidental indispensável aos egos; cabelos molhados pela chuva que me convidou a recolher as peças de roupas esquecidas no varal, pele oleosa, receptiva à erupções cutâneas, traços distantes de um passado indígena, sorriso infantil, bolsões inchados na parte inferior dos olhos, semelhantes à olheiras, trazendo à figura um aspecto envelhecido, mal cuidado. Nada além.
Não considero em minha história a soma de experiências como sinal de maturidade, pois a consciência das vivências só me traz a certeza de que até então não soube entrar pelas portas certas.
Tá. Eu e eu de novo. Blá, blá.
Onomatopeias e egocentrismo têm me cansado. Mas há essa energia, liberada na dança dos dedos em tecles ou grafias. Energia que abafei com uns goles dominicais de cevada alemã.
Escrevo à meia luz, incapacitada de enxergar além do meu vício de observar meu pequeno mundo egoísta. Vez ou outra jogo a cabeça para os lados, na intenção de prolongar o efeito do líquido que trouxe ao meu quarto tonalidades diferentes. Não tenho garantias que a técnica funcione, mas insisto, perfumando minhas narinas com o misto inebriante de condicionador Dove e chuva mofada. Minha mãe permanece em outro cômodo, retida pela televisão e por saber que sua singela menina escreve freneticamente sob o efeito de uma droga que ela permitiu que interferisse no domínio de sua razão. Ela sabe que a filha não come há uma soma considerável de horas e mesmo aprontado o jantar, não levanta a bunda do sofá para chama-la, pois a viu quando caminhando até a cozinha na última vez que buscou uma garrafa de cerveja e desaprovou, silenciosa, o descontrole de sua indefesa cria.
Escrevo. A internet não funciona, portanto, recorri com uma satisfaço implícita no modo de vida atual, ao dicionário arcaico que tenho numa das prateleiras do meu quarto. Sua capa, vermelho carmim, rija e envelhecida, envolve retangularmente os aproximados sete centímetros de páginas amareladas –algumas levemente amassadas- que satisfazem minhas curiosidades intelectuais.
Não. Não tenho amigos por perto. Tenho livros. Além das combinações léxicas? Tenho obsessões. Numa linguagem ias poética, prazeres. Ou na verdade, os dois.
Fui arrastada, em concordância, confesso, pela força oposta ao imã que havia no final do abismo qual caminhava pelas bordas, lenta e prazerosamente. Não pestanejei, não sou de nadar contra a maré. Forças? Tenho. Porém não as emprego quando desconheço o resultado final de meus esforço. Eu só me fudi. Fui forte e auto-suficiente e quase morri. O emocional falhou. Sou boa cientista social enquanto analiso de fora do jogo, não sei me envolver.  E depois de tanta água fria na bunda deveria temer a morte e me devotar àquela força invisível que a maioria dos habitantes do planeta temem sob o pretexto de amar. A tal força que me “salvou” da escuridão... Hã. Balela. Continuo sem medo, sem devotismo, temor, sem amor. Continuo em descaso com as tais supremas forças invisíveis. Não as vejo. Ponto.
Tá, eu leio. Não sou de todo ignorante. Me divirto no mergulho em conflitos e contradições científico e religiosas. Porém, nenhuma das duas me abastece de combustível plenamente funcional para seguir a vida. Vou seguindo de tanque vazio. E alcanço altas montanhas... só para desligar o motor e soltar as engrenagens. Desço em ponto morto. A infra-estrutura das estradas não permite a velocidade do meu veículo. Ponto morto. Ponto morto. Ponto morto.
Se me entrego? Sim... Sempre quando meço a distância do pé ao cume da montanha e o vazio do meu tanque, e acho que ambos se equiparam. E subo, apenas para descer. Horizontes me enjoam.
Patética. É a palavra que melhor combina com a vontade de encerrar essa combinação gráfica que ninguém vai ler. Patética, título perfeito que comportaria mais e mais linhas de patetices... não tenho problemas com o descaso e, em contrapartida, tenho criatividade e tempo ocioso. Mas de cima do meu criado mudo um livro chama meu nome, pra que eu ingira o último capítulo e solte, por fim, a eructação.
Ele também não vai ler. Mas para esse escritor cujo a cama me acolheu uns dias atrás eu dedicaria algumas linhas desse post... Ou não. Tanto faz.

Papo com os óculos

Entrei da mesma maneira que saí.
Em baixo os tacos de madeira riscando linhas retas sob os passos tortos, em cima uma nuvem de fantasia e entusiasmo que ora reluz alegrias de branco puro, ora todos os cinzas que opacam meu humor.
Mas deixemos as tempestades emocionais porta à fora. Sentemos na cadeira -eu na esculpida em madeira que há anos peregrina pelos cômodos da casa e você na que te acomode enquanto lê, e que necessariamente não precisa ser cadeira.
Pois quando cheguei estava tudo exatamente no mesmo lugar, o que incitou a suspeita de uma festa dos meus objetos enquanto estive fora. Tudo exatamente no mesmo lugar é óbvio demais e, em minha condição de complexo aglomerado de células e sentidos, gênero feminino em idade de aflorar hormônios e natureza inquieta, desconfio do que é óbvio.
A meia luz do abajur de cogumelos cor-de-rosa contorna móveis dispensáveis e insinua que odeio iluminação artificial no meu casulo, pois não saberia expôr minhas asas multicoloridas de borboleta que ainda não aceitou a condição de ex-lagarta. Pois me incomoda não ter sono na penumbra e trocar sonhos pela realidade com a qual devo conviver. 
O edredom xadrez faz-me lembrar de velhos prazeres com os quais já me acomodei, como a estampa dos panos reciclados que visto, a obsessão por sebos e cafés servidos em boteco, o apreço por grampos simples de cabelo, a fidelidade para com minha depiladora, tatuador ou o vício de me auto-boicotar pra que metade de mim ria, metade se cale...
Os livros empilhados no caixote que me serve como criado mudo ao lado da cama me escancaram a ironia de habitarem meu mundo em maior quantidade que os seres humanos; que estreito relações com papel e tinta, confio e dispenso tempo mais do que às criaturas feitas minha imagem e semelhança. Imagem e semelhança? Divagamos no plano biológico, né?? =(
Vi os familiares livros, somei aos infinitos potes de tintas e pincéis organizados na escrivaninha, capturei um resquício de perfume do incenso que acendi à tarde, cumprimentei fotos velhas e silêncio novo -sim, pois cada dia contabilizo a ausência de alguém-, pensei nas diversas acusações sob o título de a-social que às vezes caem sobre mim, discordando ao analisar comportamentos humanos modernos comparados aos meus. De certo desaprendi as regras do jogo das inter-relações, mas foi por opção. Continuo a conviver com o mundo na posição de espectadora, interagindo nas margens, porque me dá pé, mas de qualquer maneira, interagindo. 
Somos nós, bípedes, de polegar opositor, racionais (o que quer dizer isso mesmo?), peças de um grande quebra-cabeça, recortados no intuito do encaixe perfeito. Acredito que nos encaixemos, porém, matematicamente não encontro sentido para o encaixe e, mesmo acreditando na lógica, torno-me indiferente às suas matrizes. Procriação? Interesse? Leis de sobrevivência? A porcentagem de falha dessa tal razão? ...Deito frente às pecinhas embaralhadas  e filosofo, escondida à sombra onde ninguém cobra meus contornos vazios.
No frescor da minha pseudo-escuridão lembro de pessoas que chegaram e se foram, muitas que passaram pelo meu quarto, cumprimentando livros, edredom e abajur. Lembro que sou boa em desperdiçar tempo, pois este não foi reservado à companhia nenhuma. Lembro de uma conversa que tive na cama, com teus óculos de grandes lentes, onde chegamos à conclusão sobre um tal egoísmo que nos faz solitários. Lembro que devo esquecer de tudo, pois não adianta ler ou arquivar minutos; pintar ou combinar palavras. Minhas filosofias inúteis não pintam ou escrevem outro mundo, não me trazem sono. Não transformam a vida de quem as lê, tampouco de quem escreve.
Apenas enfatizam meu egoísmo e solidão.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A grande janela, e o antigo mapa

Ele não era gordo, mas via-se pela coluna ereta num porte requintado que apreciava a boa culinária, ou ao menos bons vinhos. Vestia-se simplório, porém a elegância dos gestos e o tom polido da voz traziam ao velho toda a pompa de alta casta social.
Sua presença impunha silêncio na sala, sem sufocar os presentes, e o sorriso omitido pela máscara do papel que cumpria atrás da mesa de madeira trabalhada proibia qualquer um de sorrir. Havia discordância entre sorriso e dinheiro e receio não declarado de que descontração espanta o lucro obtido na ação que ele se prestava em assinaturas de cheques. Não era autoritário, mas autoridade natural. Não ditava nenhuma regra, mas os presentes pareciam haver ensaiado cuidadosamente os passos para aqueles instantes. Poderia haver então, talvez, culpa por saber que a gente simples do lado oposto de quem vomitava tira de papel pela calculadora se desdobraria para pagar todos aqueles juros que ele calculava e que outrora -bons tempos, lembrava com pesar- não eram cobrados.
Mas o que mais chamou a atenção da menina não foi a distinção da figura curiosa que observava pela primeira vez; não foram seus discursos coerentes sobre a epidemia da ausência de fé e da transvaloração da ética religiosa; não foi o fogo contido pelos óculos quadrados enquanto fumegava pelos lábios críticas para a levianidade das pronúncias de quem se diz cristão e inverte o lugar de cristo, ocupando com perjúrios ou humanizando-o por demais... Perfurou o olhar da menina ao indagá-la por três vezes: "O que é se?", "O que é Deus", "O que é querer?". Encontraram, então, uma dúvida, uma divindade onipotente e uma mera vontade... E incendiaram a sala com os regojizos de quem já comeu de mais e o apetite de quem inicia-se na degustação... "Se Deus quiser" ... ela ria enquanto ele vociferava. E ela dividia seu interesse entre o que ele falava e o silêncio que invadia o décimo terceiro andar de um prédio comercial pela grande janela aberta.
Pela janela ela via-se tudo: a cidade e além... via-se edificações e então os morros azulados que cercam a selva de prédios em que eles já estavam acostumados a viver. Via-se aquele céu que escondia o ouro atrás de nuvens de puríssimo algodão. Via-se pessoas do tamanho de formigas e um grande espelho feito de água no meio da praça.
E o velho falava, mas ás vezes suas palavras eram atiradas pela janela, ou roubadas pelo quadro pregado na parede às suas costas, exibido para a sede dela. Era o mundo em perspectivas passadas competindo com tanta televisão. Eram cores mortas, caras mortas, histórias passadas... Era o passado da história ao descaso de quem assiste essa tal teletransmissão... Era tudo o que ela queria sem jamais fazer menção, em seu horário de almoço, ao ser escalada à companhia de confiança da gerente financeira que requeria àquele empréstimo.
Ar condicionado, sorrisos? Trajes sociais, uma secretária seguindo os padrões da moda? Pelas estantes retratos dos filhos, mulher, cão?
Não... pois naquela sala havia uma grande janela e um antigo mapa mundi... E a menina sabia que eles haviam contado ao velho todos os segredos da vida.