segunda-feira, 17 de outubro de 2016

É do tipo que dói

Disse que o problema não era esse, não era simples, desliguei o telefone a afundei o rosto na almofada amarela, molhando a espuma com a dor que eu não tinha estômago para digerir.
Do outro lado da linha que a gente derrubou, eu sabia que você chorava também, pois havíamos nos tornado crianças, mesmo que nos enxergasse tão grandes.
Antes de achar que explodiria, me levantei e vesti qualquer roupa que não cobriu a tatuagem da coxa direita, troquei as lágrimas quentes pela chave do carro e saí.
De trás das nuvens gordas de primavera o vento se viu invejoso daquela raiva que eu sabia sentir tão bem e assoprou violentamente um vermelho queimado pra cobrir o céu, me ofuscando e se combinando comigo, e despejando todo o lixo da cidade no meu quintal.
Eu já não podia mais sair de casa ou de mim.
Acendi um cigarro e deixei que a chuva chorasse do lado de fora do meu corpo.
Escureceu. Dentro e fora.

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https://www.youtube.com/watch?v=yDvGp5lanQA&list=RDyDvGp5lanQA#t=34