sábado, 2 de maio de 2020

Refletindo sobre a prática (ou: Bolha Não!)

Tava eu lá, plena e completamente decidida sobre minha prática educativa, profundamente instrumentalizada, num esforço prazeroso de compartilhar com meu marido as teorias do desenvolvimento infantil, segura e orgulhosa de mim enquanto mudava nossos hábitos para garantir que meu filho (de cinco meses) tivesse a oportunidade de se desenvolver num ambiente livre de telas de celulares, televisões e computador, quando... fui almoçar na casa da vovó.
Ela, em seu esforço carinhosamente genuíno de me proporcionar um almoço tranquilo e agradável com meu companheiro, pegou o netinho para curtir noutro cômodo da casa e em sua melhor intenção ligou a televisão gigantesca de sua sala num volume desnecessariamente alto e sintonizou num programa atrativamente elaborado para crianças pequenas, pondo-se à dançar com ele no colo, de frente para tela, numa proximidade aflitiva.
Olhei para meu marido, engoli. Retesei todos os músculos do rosto. Compartilhamos um silêncio crítico, imóvel, sofrido. Por fim ele riu. Levei outra garfada à boca. Pensamos em silêncio por mais um tempo. Meus olhos umideceram. Levantei, sentei, outra garfada. E por fim controlei todos os meus instintos de arrancá-lo dos braços dela e da influência daquele vilão, terminei meu almoço e entendi que apesar de meus esforços e convicções, o Cícero já havia saído do meu útero e agora era do mundão.
Eu? Assumia então o papel de responsável pelas melhores referências, amando-o e respeitando sua individualidade no tempo e espaço em que ele nasceu (isso inclue quem compõe o seu convívio). Mas sobretudo compreendendo (como boa marxista que sou) que a diversidade de influências é positiva na constituição do indivíduo. Noutras palavras: "Camila, bolha não!"

Daí lembrei da maior lição que a academia me proporcionou: a importância da reflexão sobre a prática.
Teoria é bom, mas a ressignificação do conhecimento aliada à contextualização da realidade material concreta daquela criança e daquela família é o que realmente vai legitimar suas escolhas.

😉