Não considero em minha história a soma de experiências como sinal de maturidade, pois a consciência das vivências só me traz a certeza de que até então não soube entrar pelas portas certas.
Tá. Eu e eu de novo. Blá, blá.
Onomatopeias e egocentrismo têm me cansado. Mas há essa energia, liberada na dança dos dedos em tecles ou grafias. Energia que abafei com uns goles dominicais de cevada alemã.
Escrevo à meia luz, incapacitada de enxergar além do meu vício de observar meu pequeno mundo egoísta. Vez ou outra jogo a cabeça para os lados, na intenção de prolongar o efeito do líquido que trouxe ao meu quarto tonalidades diferentes. Não tenho garantias que a técnica funcione, mas insisto, perfumando minhas narinas com o misto inebriante de condicionador Dove e chuva mofada. Minha mãe permanece em outro cômodo, retida pela televisão e por saber que sua singela menina escreve freneticamente sob o efeito de uma droga que ela permitiu que interferisse no domínio de sua razão. Ela sabe que a filha não come há uma soma considerável de horas e mesmo aprontado o jantar, não levanta a bunda do sofá para chama-la, pois a viu quando caminhando até a cozinha na última vez que buscou uma garrafa de cerveja e desaprovou, silenciosa, o descontrole de sua indefesa cria.
Escrevo. A internet não funciona, portanto, recorri com uma satisfaço implícita no modo de vida atual, ao dicionário arcaico que tenho numa das prateleiras do meu quarto. Sua capa, vermelho carmim, rija e envelhecida, envolve retangularmente os aproximados sete centímetros de páginas amareladas –algumas levemente amassadas- que satisfazem minhas curiosidades intelectuais.
Não. Não tenho amigos por perto. Tenho livros. Além das combinações léxicas? Tenho obsessões. Numa linguagem ias poética, prazeres. Ou na verdade, os dois.
Fui arrastada, em concordância, confesso, pela força oposta ao imã que havia no final do abismo qual caminhava pelas bordas, lenta e prazerosamente. Não pestanejei, não sou de nadar contra a maré. Forças? Tenho. Porém não as emprego quando desconheço o resultado final de meus esforço. Eu só me fudi. Fui forte e auto-suficiente e quase morri. O emocional falhou. Sou boa cientista social enquanto analiso de fora do jogo, não sei me envolver. E depois de tanta água fria na bunda deveria temer a morte e me devotar àquela força invisível que a maioria dos habitantes do planeta temem sob o pretexto de amar. A tal força que me “salvou” da escuridão... Hã. Balela. Continuo sem medo, sem devotismo, temor, sem amor. Continuo em descaso com as tais supremas forças invisíveis. Não as vejo. Ponto.
Tá, eu leio. Não sou de todo ignorante. Me divirto no mergulho em conflitos e contradições científico e religiosas. Porém, nenhuma das duas me abastece de combustível plenamente funcional para seguir a vida. Vou seguindo de tanque vazio. E alcanço altas montanhas... só para desligar o motor e soltar as engrenagens. Desço em ponto morto. A infra-estrutura das estradas não permite a velocidade do meu veículo. Ponto morto. Ponto morto. Ponto morto.
Se me entrego? Sim... Sempre quando meço a distância do pé ao cume da montanha e o vazio do meu tanque, e acho que ambos se equiparam. E subo, apenas para descer. Horizontes me enjoam.
Patética. É a palavra que melhor combina com a vontade de encerrar essa combinação gráfica que ninguém vai ler. Patética, título perfeito que comportaria mais e mais linhas de patetices... não tenho problemas com o descaso e, em contrapartida, tenho criatividade e tempo ocioso. Mas de cima do meu criado mudo um livro chama meu nome, pra que eu ingira o último capítulo e solte, por fim, a eructação.
Ele também não vai ler. Mas para esse escritor cujo a cama me acolheu uns dias atrás eu dedicaria algumas linhas desse post... Ou não. Tanto faz.