Sentei no jardim com as pernas cruzadas, apoiando meu filho nelas. Era meio da tarde, meio de uma pandemia de um vírus novo, meio do turno em regime de teletrabalho. A vida andava meio complicada e eu tinha muito tempo pra pensar nela, então passei a desbastar as cebolinhas...
Eu era mãe há cinco meses, pedagoga há nove e militante desde que entendi o significado dessa palavra. E àquela altura da vida, minha coleção de informações úteis e inúteis já havia transbordado do potinho, encharcado todo chão e começava a evaporar ao ar livre.
Tem tanta regra pra ser mãe né?
É tanta diretriz, tanta verdade absoluta e palpite de vizinho. Corrente teóricas: um zilhão! E os macetes para estabelecer uma rotina? Os treinamentos de sono? Alimentos que assam o bumbum ou movimentos que viram o bucho? Sem falar nas adoráveis redes de apoio e naquelas mensagens de solidariedade que a gente recebe...
Mas gente...
E mesmo com todo esse aparato, só o que eu lia nas redes e ouvia das outras mães era como aquilo tudo de casa, filho, família e trabalho era difícil e cansativo e como se anulavam em suas maternidades, vivendo nas brechas do espaço dos seus filhos: ou quando estes dormiam ou então estavam aos cuidados de outra pessoa.
Mas gente (de novo!)....
Eu ali, replantando as cebolinhas, ia refletindo sobre minha prática educativa como mãe e professora, mas talvez um pouco mais como mãe, chegava a mesma conclusão: uma das coisas mais bonitas na educação é que não existe verdade única, nem tanto certo e errado assim... E muitas vezes a gente se esquece de observar a criança, antes de se entupir de informação. A gente esquece que cada uma é um pequeno ser humano, com sua personalidade, preferências, dias bons e ruins (assim como você não é igual sua mãe ou gosta exatamente do que seu irmão gosta).
Nesse momento o Cícero passou a arrancar as cebolinhas, assim como eu...
O mais difícil para nós humanos é a mudança de hábitos, o que não quer dizer que você precisa acender a luz, ligar uma música e chacoalhar brinquedos às três da manhã porque seu filho acordou. Assim como você não vai deixá-lo almoçar Doritos porque deve respeitar o poder de escolha e autonomia dele. O responsável pela saúde dele é você. Só que o responsável pela sua saúde também é você.
A criança quando chega é sim o centro, mas ela não pode fazer a galáxia parar de girar!
Pra que aquela nova relação se torne uma troca, não um fardo.
E eu mantive a rotina, só que com uma criança pendurada no corpo, o que deixa tudo mais lento. Logo a gente acostuma com as atividades interrompidas e com uma vida social e sexual bem menos agitada. Ah, talvez a privacidade no banheiro também tenha diminuído substancialmente...tsc
Porque foi isso que eu escolhi quando decidi ser mãe. E isso é ser mãe. Ou perdi alguma coisa?
E não posso deixar de mencionar o puta companheiro, pai e marido que não me ajuda, mas sim divide os cuidados do pequeno comigo!
Ahh, mas seu filho é bonzinho! Se fosse o meu...
Hunf, o meu chora pra caralho e não desce do colo. Mas mesmo assim o coloquei no esquema que já existia aqui quando ele chegou, diminuindo o ritmo para acolhê-lo sem interromper o fluxo, pois afinal, quem é que vai querer passar esses anos estressada, como coadjuvante do crescimento do filho, esperando pra se reencontrar num futuro incerto? Na próxima brecha?
A prioridade deve ser a qualidade do dia.
E acho que é isso.
E o Cícero de punhos cerrados chupava cebolinhas...