terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Cem quilômetros de tempo

Já havia se passado uma hora inteira. O cabelo secou no travesseiro enquanto a cidade desbotava para se combinar com o coração dela.
Ela nunca se deu bem com o tempo, por isso saía para não vê-lo se gastar; fora de casa não detinha controle algum e era essa a única forma que ela sabia existir..
Mas era segunda-feira e o corpo lhe pediu para parar. Era uma segunda sem cor, mesmo para ela que vivia apaixonada por segundas.
Não sabia se tinha fome.
Não sabia se sua praça gostaria de lhe ver.
Não procuraria amigo nenhum.
Nem compraria beijos de promoção.
Também não limparia os armários. Não falaria. Não pensaria. Não descolaria o corpo do lençol esverdeado.
Não encontrou promessa nenhuma que lhe sustentasse o peso do corpo sobre as pernas.
Não via sentido em atravessar uma semana sem sexta-feira.
Pensou em telefonar. Tentou calcular os pesos e por um instante achou que o vazio lhe doía mais que o sofrimento.
Queria cumprimentar a dor do outro lado da linha telefônica, mas sabia que para ele, ela não passava de um espaço onde acomodou seus medos e incertezas. Sabia que ele havia ficado mais leve depois que a conheceu, tão leve que se tornou incapaz de recusar convites para voar, na companhia de quem lhe alcançasse mais depressa. E ela não tinha cem quilômetros de tempo.
E ainda duvidava do que ele queria, do que falava e até de seus silêncios.

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