segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

33

Achei graça no jeito com que ele me pediu pra escrever, depois de me acusar tantas vezes de criar esconderijos atrás de minhas poesias.
Corri os dedos pelo galo no topo da minha cabeça enquanto desembrulhava lembranças guardadas em ordem alfabética na estante do quarto.
Sorri para as mentiras que ele descobriu em menos de trinta e três segundos e que abandonei ao lado de cada pequena loucura que nos havia trazido até ali.
Lembrei daquilo que aquela última chuva me ensinou  quando escondeu a estrada de mim sem me prometer o caminho de volta.
Te abracei molhada de estrela e dobrei aquela madrugada para caber num quarto sem janelas, assistindo de novo uma vida que ainda não é minha e só existe pra tornar suportável respirar submersa na ansiedade de ver teu cabelo esparramado na cama que ainda nem comprei.

Pagaria por um vidro do perfume que teu corpo fabrica e exala por aí.
Morro todas as vezes que me despeço de seu portão.
Queria que acreditasse em mim, mas nem meus dedos acreditam.

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